Nasci em uma família tradicional brasileira que, embora com formação católica, era levado por minha mãe carnal a centros de umbanda quando ainda criança. Observava atentamente cada detalhe das giras, das ritualisticas, e ficava encantado com as roupas, com os cantos, com tudo que via, sem saber naquela época o motivo de tanta atração e afinidade por algo que, até então, não entendia direito.
     Me recordo perfeitamente que dos 4 para os 5 anos de idade, alguns fatos me marcaram muito. Moravamos num bairro tradicional aqui em Santos, no qual comecei a ter visões constantes de seres que hoje sei tratarem-se de espíritos da natureza. Já nessa época, conversava com espíritos que confundia com pessoas encarnadas. Tive experiências também com a psicometria e a telecinesia, fenômenos estes que aconteciam espontaneamente, mas, por não entender o que se passava, ficava apavorado. Quantas noites dormi com meus pais por conta desses fatos.
     Cresci estudando em colégio católico e levava uma vida normal como a de qualquer adolescente, ora introspectivo, ora ancioso, um tanto inquieto. Como todo pisciano, sempre fui muito curioso e fascinado por assuntos transcedentais, embora nessa época, ainda não tivesse um posicionamento filo-religioso. Mas, dentro de minha alma, já trazia de berço essa outorga maravilhosa que mais pra frente tomaria consciência com o despertar de minha mediunidade de incorporação.
      Aos 16 anos, comecei a sentir modificações em meus pensamentos, forma de agir, me isolando de tudo e de todos. Senti então profundas alterações em meu sistema nervoso e apartir daí, se iniciaria uma verdadeira romaria a consultórios médicos nos quais nada de anormal encontravam que justificassem tais sintomas. Todos esses fatos começaram a interferir em minha vida física, psicológica e emocional, quando minha mãe por conselhos de pessoas amigas, me levou a um terreiro de Umbanda aonde em consulta com uma entidade da vibratória de Pai-Velho, o Pai Antônio, que, incorporado na dirigente, nos confortou dizendo tratar-se o meu caso de sintomas mediúnico-espirituais, que teria que “colocar o branco” e entrar na corrente para posterior desenvolvimento mediúnico. Não entrei, mas, com os ritos que lá passei, obtive de imediato melhoras em meu estado geral. Passado um tempo, achando que já estava bom dos tais sintomas desagradáveis, voltou tudo de novo, e pior que da primeira vez. Resultado: entrei nos famosos “tarja-preta” (remédios controlados). Cheguei a um ponto que já não mais comia nem dormia, e tinha medo de tudo. De não aguentar mais tanto esse sofrimento, me rendi e parei de fugir (talvez de mim mesmo). Fui encaminhado nessa época a um tradicional Centro Kardecista por um psiquiatra espírita já desencarnado, o Dr. Otávio Nascimento, que também confirmou minha mediunidade. Neste centro fiz o tratamento espiritual recomendado e aos poucos fui me reequilibrando até largar todos os remédios. Apesar de me sentir muito bem nesse centro e ter concluído vários cursos, iniciando também meu desenvolvimento mediúnico, sentia que algo ali me faltava e que apesar de muito ter me ajudado, não seria ali que se daria o inicio de minha missão mediunica. Me desliguei então, do referido centro após um ano e meio de frenquência e fui procurar meu caminho, e desta vez na Umbanda.
     Frequentei muitos terreiros até achar a casa desta que foi a minha Mãe no Santo, Dona Maria Ferreira Leite, uma flor em forma de gente, humildade em pessoa, que me contagiou com seu sorriso e com sua luz interior. Lá em sua casa, desenvolvi a minha mediunidade, aonde tive minhas primeiras incorporações deste que é o meu Guia, o Senhor Pena Branca, e os outros protetores que, no decorrer do tempo, foram se apresentando. Por ela, Dona Maria, já quase no final de sua missão, fui consagrado Babalorixá. Após o seu desenlace, que deixou-me uma grande tristeza, segui meu caminho, deixando para traz muitas saudade e boas recordações do antigo terreiro, findando assim mais uma etapa em meu aprendizado, que não seria a última, mas, apenas um preparo inicial para algo muito grande que ainda estaria por vir.
     Apesar de ter sido consagrado Babalorixá, por questões pessoais, não quis até então abrir terreiro. Vocação para isso não me faltava, pois desde tenra idade, trazia comigo essa espiritualidade; já nasci com o pé na Umbanda, a verdade é essa.
     Após o terreiro de minha Mãe no Santo, trabalhei como médium em outras conceituadas agremiações de Umbanda por onde tive o privilégio de conhecer bons mestre, que ajudaram-me e prepararam-me nos caminhos que trilharia depois. Nesta época, já vinha lendo e estudando as obras de Pai Matta e Silva (Yapacani), as quais me identifiquei.
     Por volta de 1995, conheci (não por acaso) uma irmã de fé, que nesta época era Filha de Santé de Mestre Arapiaga. Ela nos levou gentilmente a sua casa em São Paulo, aonde lá chegando, pisei pela primeira vez nas areias sagradas da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino. Alí, eu me encontrei. Achei o que a minha alma procurava, mudando assim, toda minha trajetória de vida, abrindo minha consciência dentro de uma nova visão do universo e do Sagrado. Fui, a partir daí, me interando e conhecendo os aspectos mais internos e iniciáticos (esotéricos) da Umbanda.
      Meu Astral sempre me guiou, valendo-se muitas vezes de encarnados para me orientar e ensinar. Foram anos de altos e baixos, de situações que precisei passar para que hoje, fortalecido pelos embates naturais da vida física, pudesse estar aqui fazendo o que faço, na direção do Templo de Umbanda Mensageiros da Luz Divina, com ordens e direitos do Astral Superior. Foram muitos estudos, muitos esforços, muitas viagens, muita dedicação e acima de tudo, muito amor pela nossa querida Umbanda e pelos meus irmãos planetários.
     Um sacerdote Umbandista de fato e de direito não nasce em cursos nem tampouco recebe essa outorga de encarnados. Primeiramente, ele é reconhecido como tal dentro de um terreiro ou templo de Umbanda idôneo, por um sacerdote preparado ou por mentores espirituais, que lhe revelam esta condição inata. Um sacerdote já nasce sacerdote, mas isso não o exime do aprendizado e da vivência iniciática na prática.
     Esta é a síntese da minha trajetória espiritual e mediúnica na qual relato minhas experiências vividas desde a minha infância até meu envolvimento mais ostensivo e profundo nos aspectos iniciáticos da Umbanda Esotérica.

Aranauan,
Babalorixá W.P. Júnior